quinta-feira, 22 de julho de 2010

Só isso...


"Não tenho a mais leve pretensão de ser a* dona* exclusiva* dos TEUS olhos: isso seria um absurdo... O que quero mesmo é ser — por algum tempo — o objeto puro e simples dos TEUS olhares.

Só isso..."

(Edson Marques)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

"quem quer segurança não deve buscá-la no Amor"


Ela me dizia que meu amor não lhe dava segurança. E eu lhe dizia que quem quer segurança não deve buscá-la no Amor. É melhor contratar uma empresa. Mas ela, ingenuamente, insistia: queria que eu prometesse amá-la eternamente. Queria vínculos, promessas, alianças, papéis e confissões. Queria transformar-me de poeta em marido. Queria mudar quem sou. Então, amorosamente, eu lhe dizia: Veja bem: segurança, certeza, estabilidade -- essas coisas você consegue apenas em relações mornas, cinzentas, tradicionais, medíocres... Comigo não! O meu amor será sempre livre, aberto, instável, incerto, inseguro... Porém sincero, verdadeiro e maravilhosamente louco!

Se isso não te basta, compre um candeeiro, daqueles de querosene. Mantenha-o aceso ao teu lado, proteja-o do vento, e coloque um rótulo: "Só meu."

( Edson Marques)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

bela música!


"Dentro da noite voraz
Detrás do avesso do véu
Atravessa este verso
A vontade nua

Tua, tua
Tua e só tua

Dentro da noite feroz
No breu das noites brancas de hotel
No clarão, no vasto, no vago
No vão, no não, na multidão

Tua, tua
Tua e só tua

Dentro da noite fulgás
Estrelas a se consumir
Arde o gás que faz esta canção
Será que você vai me ouvir?

Tua, tua
Tua e só tua

Na areia, na neve marinha
No dentro do dia, tua
Na areia, na neve marinha
No motor do dia, tua

Tua, tua
Tua e só tua"

(Tua / Maria Bethânia / Composição: Adriana Calcanhotto)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Além-mar


Me inflames!
Faça-me viva uma vez mais
Basta dessa apatia profunda
Quero muito mais que isso, necessito do "além-mar"..

Quero fogo, quero arder, queimar
Chorar, sofrer, me rasgar
Me alegra sentir e cintilar.

Não tolero mais essa sensação de segurança, de calmaria
Não admito mais me precaver ou ser cautelosa
Quero seguir, quero acelerar,
Quero a adrenalina de viver perigosamente sem ponderar.

Vamos correr, não quero parar
Tire-me daqui, leve-me para teu mar
Me afunde, me afogue, me torture, me sufoque,
Não dê ouvidos a minha petulância,
Ignore minhas vontades,
Deixe-me contorcer, eu quero amar você.

(lady masoch sub®)

sábado, 3 de julho de 2010

"Todos nós aqui somos loucos"


"Mas eu não quero me encontrar com gente louca", observou Alice.
" Você não pode evitar isso", replicou o gato.
"Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louca".
"Como você sabe que eu sou louca?" indagou Alice.
"Deve ser", disse o gato, "Ou não estaria aqui".
(Lewis Caroll- Alice no País das Maravilhas)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

2 em 1 (Clarice Lispector)


1 => "Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei."
Clarice Lispector


2 => "Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem, pois nunca morou antes em ninguém, nem jamais lhe puseram redeas nem sela – apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come as vezes em minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez."
Clarice Lispector

terça-feira, 29 de junho de 2010

Trecho do livro: Cem Anos De Solidão (Gabriel Garcia Márquez)


" - Porra! – gritou.
Amaranta, que começava a colocar a roupa no baú,
pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
- Onde está? – perguntou alarmada.
- O quê?
- O animal! – esclareceu Amaranta.


Ursula pôs o dedo no coração.
- Aqui – disse. "

quinta-feira, 3 de junho de 2010

3 em 1 (Fernanda Young)

1 => “Mulheres são assim depressivas. Pois transformam simples vontades em necessidades vitais e, diante de uma transitória impossibilidade, distorcem as sensações até torná-las insuportáveis. Uma espécie de TPM zodiacal, algo meio físico, meio metafísico, energético, quem sabe, bioquímico, com certeza, que lhes ataca as idéias, enlouquecendo-as. E, por uns segundos, ela pensa em se jogar na frente de uma Kombi que está vindo.”
Fernanda Young


2 => "Eu vinha crente que não precisava mais disso. Disso: caneta, papel, calmante e pijama. Dancei muitas músicas e ri de mim mesma. Aquela que se repete. Eu. Eu mesma: corpo e cabeça cheia de cabelos. Meu cérebro está empapado, do tamanho de uma barata. Quando vou ao banheiro e olho-me no espelho. Quase acredito ser uma boa atriz. É tudo mentira! Um batom, um perfume e vestidos me levariam ao shopping. A um bar. A um beijo. O problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente. O problema é que sou tola e carente, mas não me deixo enganar, se eu pudesse pedir um só pedido seria: pára! Pára esse carro em minha cabeça! Quero descer, estacionar, bater num poste. Não mais delirar, nem sentir no corpo esse seguir sem descanso, atrás de sutilezas que não podem ser descritas."
Fernanda Young


3 => "Sabe qual é o meu sonho secreto? Que um dia VOCÊ perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia (…) E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. E que fique claro que não é por estar VOCÊ dessa forma, tão esquivo, que O desejo tanto. Desejo-O porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que VOCÊ, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude."
Fernanda Young

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Diálogo

"— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura.

Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor.

Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

(Le fabuleux destin d'Amélie Poulain)

À bunda


Olha, desta vez você passou das medidas. Só não boto você para fora, agora, porque é a sua cara dar escândalo.

Estou cheia de você atrás de mim o tempo todo. Fica se fazendo de fofa, enquanto, pelas minhas costas, chama a atenção de todo mundo para meus defeitos.
Você está redondamente enganada se pensa que eu vou me rebaixar ao seu nível – o que vem de baixo não me atinge. Mas faço questão de desancar essa sua pose empinada.
Por que nunca
encara as coisas de frente?
Fica parecendo que
tem algo a esconder. Por
acaso, faz alguma
coisa que ninguém
pode saber?

Você é, e sempre foi, um peso na minha existência – cada papel que me fez passar... Diz-se sensível e profunda, mas está sempre voltada para aquilo que já aconteceu. Tenho vergonha de apresentar você às pessoas, sabia?
Por que você nunca encara as coisas de frente, bunda? Fica parecendo que, no fundo, tem algo a esconder. Por acaso, faz alguma coisa que ninguém pode saber? O que há por trás de todo esse silêncio?
Você diz que está dividida e que eu preciso ver os dois lados da questão. Ora, seja mais firme, deixe de balançar nas suas posições.
Longe de mim querer me meter na sua vida privada, mas a impressão que dá é que você não se enxerga. Porque está longe de ter nascido virada para a lua e costuma se comportar como se fosse o centro das atenções.
Bunda, você mora de fundos, num lugar abafado. Nunca sai para dar uma volta, nunca toma um sol, nunca respira um ar puro. Vive enfurnada, sem o mínimo contato com a natureza. O máximo que se permite é aparecer numa praia de vez em quando, toda branquela.
Não é de admirar que esteja sempre por baixo. Tentei levar você para fazer ginástica, querendo deixar você mais para cima, mas fingiu que não escutou.
Saiba que você não é mais aquela, diria até que anda meio caída. E vai ter que rebolar para mexer comigo, de novo, da maneira que mexia.
Lembro do tempo em que eu, desbundada, sonhava em ter um pouquinho mais de você. Agora, acho que o que temos já está de bom tamanho. E, pensando bem, é melhor pararmos por aqui antes que uma de nós acabe machucada.
Sei que qualquer coisinha deixa você balançada, então não vou expor suas duas faces em público. Mas fique sabendo que, se você aparecer, constrangendo-me diante de outras pessoas, levarei seu caso ao doutor Albuquerque*.
Lamento, isso dói mais em mim do que em você, mas você merece o chute que estou lhe dando. Duplamente decepcionada,

* A colunista refere-se ao cirurgião plástico Pedro Albuquerque, de São Paulo

Fernanda Young.

"Arre, estou farta* de semideuses!"


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

POEMA EM LINHA RETA
Álvaro de Campos (FERNANDO PESSOA)

domingo, 9 de maio de 2010

Chico Buarque...!!!!


Todo dia ele faz diferente, não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente, não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido, quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido, ou nem me adivinha os desejos

Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo

A cerveja dele é sagrada, a vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada, sua risada me assusta
Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira

Enquanto ele dorme pesado eu rolo sozinha na esteira
E nem me adivinha os desejos
Eu de noite sou seu cavalo

(Sem Açúcar / Chico Buarque)

"Eu me dôo o tempo todo"


Diálogo entre Glória e Macabéa, em A hora da estrela (Clarice Lispector):

- Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, embora isso me custe dinheiro.

- É para eu não me doer.

- Como é que é? Hein? Você se dói?

- Eu me dôo o tempo todo.

- Aonde?

- Dentro, não sei explicar.

Eu me dôo o tempo todo... E não há aspirina que alivie essa dor. A dor de viver. Acho que tenho dores de cabeça desde que nasci. Já ouvi muitas explicações sobre suas possíveis causas. Uma delas, de que a dor serve para não pensar. No meu caso, não faz efeito. Não faz com que eu pare de pensar, nem pare de sentir. Apenas faz com que eu me doa. Viver dói, desde o momento em que nascemos. Nossos olhos doem, até que se acostumem com a luz; nossos ouvidos doem, até que se acostumem com os sons; nosso pulmão dói, até que se acostume com o ato de respirar. Todos os nossos órgãos precisam se acostumar a funcionar, e doem muito até que o processo se complete. Mas há algo, lá dentro, que não pára de doer nunca. A dor da alma... E não há anti-depressivo, ansiolítico, nada que dê jeito. Talvez eu mesma seja responsável por essa dor. Porque, em algum momento, decidi viver com intensidade e, após tomada essa decisão, nunca mais pude voltar atrás. Não há atalho que me leve ao leve caminho do não-doer. Porque esse seria o não viver. Comigo, não funciona...